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V Café Científico lota auditório do Cabula

Evento reuniu acadêmicos, estudantes do ensino médio, professores e coordenadores de cursos.

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O auditório do Centro de Convenções da Bahiana, na Unidade Acadêmica Cabula, esteve lotado na manhã da última quarta-feira, 1º de junho, quando os cursos de Enfermagem e Biomedicina realizaram o V Café Científico que este ano trouxe como tema "Relações Raciais, Uso de Drogas, Gênero e Sexualidade" para ser debatido com estudantes do ensino médio do Colégio Estadual Governador Roberto Santos.

Entre as novidades deste ano, o evento contou com a participação de ligas acadêmicas, além dos estudantes do 1º e 2 semestres dos cursos de Biomedicina e Enfermagem, que organizaram a programação. A abertura contou com a presença dos coordenadores dos cursos de Enfermagem, Cristiane Magali Freitas dos Santos, de Psicologia, Sylvia Barreto, de Biomedicina, Geraldo Argolo, de Odontologia, Urbino Tunes e de Fisioterapia, Luciana Bilitário.

O Café Científico é o resultado do trabalho das disciplinas Ética e Bioética e Psicologia em Saúde, ministradas pelas professoras Arlene Alves e Lidiane Guedes que coordenaram o evento juntamente com a professora Sandra Portella. "São disciplinas que trabalham muito com as questões de humanização e do cuidado humano e o Sistema Unificado de Saúde, políticas. Quando nós percebemos que podemos usar determinados debates e estratégias nas nossas falas, determinados documentários, vídeos e, principalmente, uma coisa que a gente faz muito em sala de aula que é abrir o dia com os principais tabloides do nosso país, então, são os tabloides que ajudam a construir as temáticas do café", explica Portella que conta que, em um determinado momento do semestre, as duas disciplinas trabalham unificadamente, chegando a reunir um total de 80 estudantes. Após a definição do tema e com a orientação das professoras, os estudantes realizam encontros interdisciplinares, em que é definido o formato do evento, linguagem, metodologia. Ela ressalta que o café científico nunca tem o mesmo formato.

     

A coordenadora do curso de Enfermagem, Prof.ª Cristiane Magali Freitas dos Santos, esclarece que a ideia do Café Científico é justamente promover o diálogo entre os cursos e a interdisciplinaridade. "A ideia, a estratégia, começou só entre os componentes e essas docentes, então, essa culminância representava um dos itens de avaliação no fim de cada semestre e, partir do terceiro Café Científico, o projeto tomou uma proporção dessa interdisciplinaridade, ele se avolumou, foi pensando cada vez de forma mais criativa, incorporando a necessidade de discutir temas que são transversais e que perpassam a formação dos acadêmicos não só nessa análise técnica do conhecimento, mas na formação reflexiva, cidadã".

Ela ressalta, ainda, o crescimento do evento e sua importância como espaço de reflexão da formação ética e humanística do profissional de saúde. "As ligas também, pela primeira vez, estão participando do café e esse é o nosso desejo, que cada vez ele seja mais penetrante e essa penetração ocorra em diferentes cenários de formação como os grupos de pesquisa, nos projetos de extensão, nas ligas acadêmicas, nos estágios. Isso, a cada ano, é incorporado de uma maneira, mas sempre pensado como construção coletiva".

E foi justamente o que aconteceu com Raissa Alves, estudante de Psicologia e integrante da Liga Acadêmica de Sexualidade e Gênero (LASG) e Amanda Nassif, da Liga de Saúde da Mulher (LASM) e estudante de Fisioterapia. "Eu pude perceber a questão da sexualidade e gênero que precisa ser trabalhada em conexão com o pessoal de Psicologia. Temos essa demanda no nosso atendimento e precisamos discutir esse tema, fazer essa conexão com as outras ligas e entender melhor a parte social do gênero. Lidamos muito com o livro, aquela coisa engessada e a Bahiana foi fundamental, porque senti que ela abriu uma porta. Já estamos combinando com as meninas da LASG para a gente fazer uma seção em conjunto pra suprir, porque elas também têm necessidade de, às vezes, atender um paciente e orientar se ele relatar que tem uma disfunção sexual que, talvez, a fisioterapia possa ajudar", relatou Amanda.

     

Percebendo a ausência de um espaço de discussão sobre gênero e sexualidade na academia, Raissa Alves conta que era preciso construir um ambiente de reflexão sobre o tema. "Eu fui uma das pessoas que pensou o projeto da liga por conta do debate presidencial em que a gente via pessoas que estavam se candidatando para representar a gente falando coisas absurdas na televisão. E aí, quando a gente vê a repercussão disso na mídia ou em forma de chacota ou até as pessoas concordando com ele, isso é bem preocupante e quando percebemos que dentro da academia não temos um espaço voltado para esse tipo de discussão é mais preocupante ainda. Foi daí que surgiu a ideia de criar a Liga Acadêmica de Sexualidade e Gênero", conta.

Assim como a LASM, a LASG também realiza uma série de atividades de extensão, levando a discussão sobre gênero e sexualidade para escolas, eventos e sessões científicas. "Achei a proposta do café, desde o início, muito interessante, pois são vários públicos misturados e isso só enriquece a nossa discussão, são vários olhares, vários lugares de falas e histórias de vida sendo compartilhadas. E quando a professora Lidiane falou de levar estudantes do ensino médio, eu falei: – Que legal! Porque a gente mal está conseguindo levar esse tema para o ensino superior", conta Raissa.

O Café Científico contou com intensa participação dos estudantes de Colégio Estadual Governador Roberto Santos, entre eles, a aluna do 3º ano e MC, Musa Mariano, 15 anos, que encerrou a primeira parte do encontro recitando uma de suas composições. Em sua história de vida, ela ressalta a importância do RAP como fundamental para seu sucesso estudantil, pois estando concentrada em sua carreira artística, deixa de estar na zona de vulnerabilidade social. "O RAP ajudou bastante na minha trajetória como estudante, porque aprendi coisas no RAP que na escola não ensina, como a vida, que a gente não aprende muito na escola, quando vamos para a rua, para as batalhas – eventos de desafios de composição musical –, ouvimos vozes experientes, pessoas mais velhas, porque minha base de conceito toda foi criada pelo RAP, ele salvou minha vida, ocupa o meu tempo que eu tinha livre para poder estar usando droga, estar em festas, então me ocupando, e acabou transformando minha vida". O trabalho da artista pode ser conhecido no YouTube e no iCloud – MUSA MARIANO.

     

"Esse evento soma alguma coisa, achei bastante interessante o poder feminista estar aqui, abriu mais minha cabeça, porque antigamente você não via falar tanto de feminismo em uma palestra. Achei interessante porque hoje eu vou levar daqui esse lado que a moça falou de que a vítima é sempre vista como culpada e até o exato momento eu estava culpando a vítima do estupro, mas depois de uma visão ampla que eu tive aqui na palestra eu vou acabar mudando a minha opinião. Independentemente do que ela fez, a mulher não tem direito de sofrer qualquer tipo de agressão, nem mesmo verbal, mental", relata Mariano.

A interação entre os acadêmicos, os docentes e os estudantes do ensino médio foi o que sensibilizou o estudante João Ricardo Filho, 1º semestre de Biomedicina e um dos organizadores do evento. "Está tudo dentro do que a gente imaginou e esse trabalho está sendo incrível justamente porque a gente consegue ver que a interação está acontecendo, as pessoas, os alunos, os estudantes estão sentindo a necessidade de expor as suas ideias mediante o que está sendo apresentado e isso é o mais gratificante para a gente, é ver que o trabalho não é unilateral, ele é algo mútuo que acontece com a contribuição e a presença de todo mundo. Então, ver que as pessoas entenderam isso e estão se sentindo à vontade para expor suas ideias, é maravilhoso"! Celebra João.

Sobre seu aprendizado pessoal, ele destaca que o caráter humanístico é fundamental para a sua profissão. "Com relação à Biomedicina, a gente precisa entender que é uma área que a gente não tem contato direto com o paciente, então, é uma área que a gente fica um pouco mais recluso dentro de laboratórios e a gente precisa estimular esse ouvido sensível, estimular o acolhimento para que a gente não perca isso com o decorrer do tempo, para que a gente não se habitue aos costumes apenas laboratoriais em que a gente lida com estruturas microscópicas e esqueça das macros, esqueça da interação entre as pessoas, então isso é extremamente importante".

A programação contou, também, com a participação das Ligas Acadêmicas de Redução de Danos, de Enfermagem e Emergência e de Relações Raciais, apresentação de trabalhos dos estudantes de Biomedicina e Enfermagem e intervenções poéticas do poeta e cordelista, Alberto Lima.