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"Um Pouco de Cada Um" reúne exposição de talentos na Unidade Acadêmica Brotas

Grupos de idosos e de saúde mental resgatam a autoestima com atividades artísticas promovidas pelo SerTO.

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Abatido por uma depressão após ser dispensado do emprego, no início do ano, João Marinho, 87 anos, reencontrou a autoestima e a vontade de viver após frequentar o grupo de idosos do Serviço de Terapia Ocupacional (SerTO) da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.  Há dois meses, ele participa de encontros semanais com outros participantes e já retomou atividades antes esquecidas, como escrever poemas, tocar gaita e desenhar, atividade que praticou ao longo da vida como arquiteto.

Juntamente com outras dezenas de idosos e com integrantes do grupo de saúde mental do SerTO, João Marinho participou, na manhã de 9 de novembro, do Sarau e Exposição “Um Pouco de Cada um”, que aconteceu no pátio do Pavilhão de Aulas da Unidade Acadêmica Brotas. Recitou poemas e apresentou “pérolas” da MPB com seu conjunto de gaitas. Na ocasião, os demais integrantes dos grupos também recitaram poemas, cantaram músicas e puderam expor as peças de artesanato e de corte e costura produzidas ao longo das sessões terapêuticas.

     

Reescrevendo a vida

“Fui dispensado do trabalho e isso faz muita falta. Para recuperar isso, tenho que preencher o tempo com alguma coisa, então, a minha médica me recomendou essa terapia. Eu fico desejando que chegue logo a terça-feira para eu me encontrar com Ana Cláudia Braga (terapeuta ocupacional do SerTO). Na terça-feira, eu preencho um vazio muito grande na minha vida. A terapia está ressuscitando as coisas que eu escrevia”, desabafa João Marinho que estava acompanhado de sua filha, Berenice Conceição Ferreira Santos, e de três netos.

Berenice conta que seu pai sempre foi uma pessoa muito ativa e vê-lo com um princípio de depressão abalou toda a família. “Ele começou até a ter um princípio de demência o que me abalou muito. Confesso que, no início, tive resistência em aceitar o quadro, pois não somos preparados e não temos a cultura de aceitar o tratamento psicoterapêutico, pois o associamos a ‘médico de maluco’”. Mas, buscando informações sobre o quadro, ele chegou a uma geriatra que indicou o serviço terapêutico. Hoje, além de frequentar o grupo de terapia ocupacional, realiza sessões com psicólogo.
     
Segundo a coordenadora do SerTO, a terapeuta ocupacional Sofia Campos, “o nosso trabalho é voltado, principalmente, para a promoção da saúde das pessoas com o resgate das suas atividades diárias. São pessoas que, por algum motivo – pela doença ou pelo processo de envelhecimento – são acometidas de uma fragilização nos seus vínculos afetivos, familiares e de amizades, além da perda de algumas de suas atividades”. Ela destaca que, ao retomar essas atividades e esses laços de relações, as pessoas conseguem reorganizar suas vidas de forma autônoma e independente, refazendo o seu cotidiano, apesar de suas limitações e do seu adoecimento.

“A proposta da gente é que, nesses encontros, elas possam trocar conhecimentos com pessoas que estão em situação parecida com a delas e descubram suas habilidades por meio da ajuda mútua. Assim, eles vão resgatando habilidades esquecidas e reaprendendo novas habilidades”, explica Sofia, apontando que o processo terapêutico por meio de atividades práticas os leva a expressar os sentimentos.  
     

“Eu fico muito feliz, porque vejo o resultado de um resgate. Tudo isso que vimos aqui, as apresentações de teatro, música, poesia, na verdade são o resultado de um resgate por intermédio de um processo terapêutico. Nós ressaltamos o que a pessoa gosta de fazer e que está um pouquinho esquecido no passado, mas que tem condições de continuar fazendo. É como um resgate de identidade”, explica a coordenadora do grupo de idosos e terapeuta ocupacional, Ana Cláudia Braga.


Jaciara de Jesus Borges já participa do grupo de saúde mental do SerTO há dois anos. Buscou a terapia a fim de reduzir os efeitos das crises de ansiedade que a deixavam deprimida e irritadiça. “Eu sinto que estou mais paciente. Eu tenho muita irritabilidade e, depois das minhas sessões, eu volto para casa tranquila. Nunca mais tive uma crise de ansiedade”. Nas sessões em grupo, ela desenvolve peças artísticas e declara sua preferência pela pintura, atividade que nunca havia experimentado antes da terapia.


A psicóloga Simone Lopes Ferreira conta que a exposição do grupo de saúde mental teve o objetivo de apenas apresentar os produtos sem sua venda. “O nosso objetivo é o fazer, é estar em atividade, pois, assim, trabalhamos terapeuticamente várias questões que estão perdidas, desencontradas. Por isso, muitas vezes eles se apegam ao produto e não querem se desfazer dele”.



Produção e independência


Sofia Campos conta que, além da questão terapêutica, outro ponto que surgiu como demanda do próprio grupo foi a geração de renda. “Eles começaram a produzir peças, as pessoas começaram a querer comprar, o que mobilizou essa questão. Para alguns deles, essa é a primeira vez que está administrando o fruto do próprio trabalho. É um momento, inclusive, de aprender a fazer conta”.


Esse amadurecimento da produção artesanal e artística dos grupos já está chamando a atenção de pessoas de fora da Bahiana.  “Fizemos uma parceria com uma empresa que nos doa retalhos e passamos também a trabalhar com o conceito de sustentabilidade. Essa empresa tem interesse em colocar nossos produtos à venda em sua loja, fato que nos leva a discutir a implementação de uma associação ou cooperativa. Essa ideia converge com a lógica da Bahiana que trabalha na perspectiva da sustentabilidade e da responsabilidade social”, declara Sofia Campos.



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